quinta-feira, 21 de março de 2013

O RIO E O OCEANO


“ Diz-se que, mesmo antes de um raio cair no oceano ele treme de medo.

Olha pra trás, para toda a jornada, os cumes, as montanhas, o longo caminho sinuoso através das florestas, através dos povoados, e vê à sua frente um oceano tão vasto que entrar nele nada mais é do que desaparecer para sempre.

 Mas não há outra maneira. O rio não pode voltar.
Ninguém pode voltar. Voltar é impossível na existência.
Você pode apenas ir em frente.
O rio precisa se arriscar e entrar no oceano
E somente quando ele entra no oceano é que o medo desaparece
Porque apenas então o rio saberá que não se trata de desaparecer no oceano, mas tornar-se oceano.
Por um lado é desaparecimento e por outro lado é renascimento

Assim somos nós
Só podemos ir em frente e arriscar.
Coragem! Avence firme e torne- se Oceano!!

 OSHO

terça-feira, 12 de março de 2013

Voando com a ajuda de milhões


 

Ouso começar este texto com uma afirmação difícil de ser verificada, mas que acredito ser verdadeira: não existe companhia aérea relevante no mundo que seja lucrativa durante um período maior do que um par de anos. Nos EUA, as grandes começaram, há algum tempo, uma onda de fusões com o objetivo, creio, de tornar as empresas resultantes em “grandes demais para quebrar” e facilitar o acesso a recursos públicos. Na Europa, mesmo empresas de países ricos e com histórico de gestão competente em outros setores não sobreviveram. A Swissair, que chegou a ser apelidada de “banco voador”, em razão de uma percebida estabilidade similar a dos famosos bancos suíços, quebrou em 2001 (no fim das contas, os bancos também não eram assim tão sólidos - os maiores precisaram de ajuda do governo para sobreviver à crise de 2007/2008). No fim do ano passado, a escandinava SAS precisou costurar um acordo com oito sindicatos para evitar (ou pelo menos adiar) uma falência. Aqui no Brasil, TAM e Gol, mesmo concentrando parte enorme das linhas, alternam lucros e prejuízos praticamente a cada ano. Não por acaso, as companhias atualmente mais prestigiadas, como Emirates, Qatar e Singapore, contam com grande suporte dos respectivos governos e grande tolerância a perdas. São mais demonstrações de poder e orgulho nacional do que empreendimentos capitalistas.

O fato de podermos voar pelo mundo a preços relativamente moderados (comparados ao passado não muito distante, muito baixos) deve-se, portanto, à generosidade oculta de pagadores de impostos, que até agora não se rebelaram e elegeram um político que prometesse acabar com a ajuda às companhias aéreas. Na verdade não há notícia que tal político tenha aparecido, e, caso apareça, provavelmente a bandeira não seria muito popular. O transporte aéreo, de um jeito torto, é considerado um bem público (do qual a maioria da população desfruta, direta ou indiretamente). Ainda que seu financiamento seja regressivo - todos pagam impostos, mas os mais pobres não conseguem comprar uma passagem de avião - a alternativa, acabar com as companhias aéreas ou forçá-las a cobrar pelas passagens um preço que garantiria uma margem de lucro segura, parece impensável.

Além do racional econômico, há como mencionei acima, uma questão intangível, de orgulho e identificação. Nas pistas de aeroportos pelo mundo, as distintas pinturas na fuselagem dos aviões de companhias internacionais são como bandeiras hasteadas, ou embaixadas com asas. No ar, são símbolos poderosos e fascinantes do domínio da natureza pelo homem. Resumiu bem esses sentimentos o grande Frank Zappa: “Você não pode ser um verdadeiro país se não tiver uma cerveja e uma companhia aérea.”

Portanto, toda vez que entrar em um avião rumo a seu destino preferido, não se esqueça de agradecer mentalmente a milhões de contribuintes anônimos que estão, indiretamente, subsidiando sua passagem; e sinta-se privilegiado por viver em um mundo onde a lógica econômica direta nem sempre predomina.

 Luciano Sobral, trabalha como economista para financiar a humilde missão de conhecer o mundo.

segunda-feira, 4 de março de 2013

De Meninos e Lobos


O esporte constrói e destrói mitos. Não sei se com a internet ou com o fluxo de informação, os atletas estão hoje mais expostos e, por isso mesmo, mais sucintos a mostrar falibilidades tão humanas. Michael Jordan, o maior jogador de basquete de todos os tempos tem suas fraquezas com o vício do jogo. Tyger Woods usou o celular como um maníaco atrás de relações extraconjugais.

E mais recentemente tivemos Lance Armstrong que viu cair por terra toda sua história cuidadosamente e doentiamente arquitetada que mentia sobre um atleta que supera uma doença terrível e conquista o que ninguém havia feito no ciclismo.

Quando falavam que Jordan tinha seus problemas, as pessoas falavam que não havia problema, afinal não havia relação com sua atividade em quadras. Será? O mesmo para Woods. Ele é um jogador de golfe, não importa o que faz na cama. Mas será mesmo? Confesso que não tenho opinião formada a respeito. Mas e quando tudo atinge os outros como fez Armstrong? E quando é ainda pior. Semanas atrás tivemos o bi-amputado Oscar Pistorius assassinando a tiros a namorada em condições ainda sendo investigadas.

Quase tão ruim é a nossa negação. Elevamos alguns atletas a condições de seres superiores. Por alguma razão, achamos que uma pessoa como Armstrong ou Jordan tem uma bondade inerente. Achamos que um bi-amputado comete menos crimes que um sujeito qualquer. Mais triste ainda, “investimos” tanto nesses atletas, confiamos tanto, como quem acredita em uma entidade, que os deslizes não podem ser verdade.

O que Jordan e Woods faziam era tido como “extra-campo”, não havia tantos problemas. Armstrong sofreu acusações sérias e pesadas por muitos anos. Os fãs (eu incluso), solenemente não conseguiam aceitar. Aliás, até hoje dizem não se importar. Afinal, foram muitos anos dedicados à Armstrong para aceitar que estávamos todos sem exceção errados.

Foi essa também um pouco a sensação com Pistorius. Nunca fui fã dele, mas ao acordar e ler a notícia, só pensava para que resolvessem tudo rápido, afinal ele não poderia ser essa pessoa que estão dizendo.

Não sei se é assim, mas parece que “consumimos” os atletas como uma espécie de santo. Investimos tanto neles que queremos que eles sejam como queremos, não como são. E tanta exposição vai revelando o lado duro: fora das quadras eles erram tanto quanto qualquer um de nós.


Danilo Balu