segunda-feira, 1 de julho de 2013

Dumbariboró,em Colombia, e se um dia a humanidade voltasse a fazer arte assim...?

Ver o museu do ouro em Bogotá e não se embasbacar com o simples deleite das formas aprazíveis, elegantes, sinceras, doces, transparentes e detentoras de uma vida, um significado, é uma penitencia que não deveria ser imposta à ser humano nenhum. O requinte é tamanho dessas OBRAS PRIMAS que apenas admira-las sem pensar no seu valor étnico-moral-científico-espiritual (que para nós  é imensurável) já nos traz tantas emoções positivas estimulantes. é difícil imaginar um patamar de desenvolvimento técnico estético econômico tão elevado para produzir tão sofisticada arte. Por essas e por compreender que o domínio sobre os saberes da geologia sempre nortearam os homo sapiens; visitar esse acervo é presenciar, viver, um dos maiores patrimônios culturais que o sistema mercantilista, global, capitalista pôde produzir.


 
 
 
 
 
 
 


 
 
 
 


isso sem falar na inacreditável CATEDRAL DE SAL.. pertinho de Bogotá, outra aula de religião, fé e conhecimento do saber geológico…



 
BELO HORIZONTE, 25 DE JUNHO
.Manuel Correa
 
 
 

terça-feira, 18 de junho de 2013

Então não são pelos 20 centavos?

Acho que não importa muito a posição partidária, parece haver quase consenso que houve excessos tanto por parte da PM (e seus batalhões especiais) quanto por parte dos manifestantes, assumidamente orientados também por grupos partidários. Nessa confusão toda, não há ninguém com toda a razão e nem os totalmente inocentes.
De qual lado estou? Todos nós estamos do lado certo, cada um com sua justificativa. Eu confesso que parei de ler a maioria dos textos que me chegavam porque fiquei desanimado, pessimista, nervoso. As duas turmas possuem argumentos muito bons, você nem precisa concordar com a causa, mas tem algo nessa história da qual não consigo abrir mão quando avalio: se cada um de nós resolver mudar a lei para justificar transgressões, como já foi dito por alguém, é bom cada um carregar o seu porrete.
Eu moro a cerca de 5 quadras da Avenida Paulista, em São Paulo. Aqui é local de muitas manifestações. Todas elas transformam para pior o já horroroso trânsito de São Paulo, mas viver numa democracia é isso, saber conviver com a decisão de uma maioria respeitando a da minoria. O direito ao protesto todos têm, desde que sigam as regras, no caso, a Lei. Fico imaginando se todo mundo se sentir no direito de fechar avenidas. Literalmente não sairíamos do lugar.
Enfim, as vaias à presidente Dilma e os protestos feitos em cidades de diferentes partidos vão deixando claro que realmente a discussão de quantos centavos aumentou a passagem é secundário, há é uma insatisfação geral às vésperas de algo que consumiu bilhões de reais para um evento de uma entidade privada, a FIFA.
Independente de qual o “seu lado” (com certeza você acha que é o certo), fica claro que numa Democracia, se todo mundo tomar para si o direito de que podemos parar a cidade para que ouçam nossa reivindicação, é melhor rasgarmos a constituição e pularmos direto pra barbárie. Economizaremos tempo.

Danilo Balu

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Câmbio, esse inconveniente

Parece incrível, mas houve um tempo (e não faz tanto tempo assim) em que brasileiros que moravam no exterior e estavam para ter filhos pediam para visitantes que levassem roupas, brinquedos e demais acessórios. Também houve um tempo em que Miami era destino de turismo só para os muito ricos, e, no sentido contrário, o Brasil era local de férias baratas até para argentinos, que invadiam as praias de Santa Catarina com suas garrafas térmicas e cuias de mate.

Desde então, o Brasil até ficou mais rico, mas o que mudou de verdade foi a variável que regula nossa riqueza relativa contra o resto do mundo: a taxa de câmbio. Nos últimos dez anos, quase ininterruptamente os reais ganhos aqui foram sendo capazes de comprar mais e mais moeda estrangeira, até o ponto em que o preço de praticamente qualquer produto comprado nos EUA é menor do que os praticados aqui. Tenho amigos que enchem as malas não só dos habituais eletrônicos, mas também de bebidas, pilhas, livros, cotonetes, cápsulas de café, e a lista poderia seguir até o infinito.

Ocorre que, independente de qualquer culpa judaico-cristã (“não há prazer sem punição”), os anos de bonança acabam por plantar sua própria destruição: o resultado final do aumento nas importações (não só de turistas, evidentemente) é um desequilíbrio nas contas externas, que faz com que o câmbio se deprecie e torne novamente os preços no exterior relativamente caros. No Brasil, isso parece estar acontecendo de forma acelerada: 100 reais já chegaram a comprar 62 dólares; hoje compram pouco mais de 46 e há certo consenso que vão comprar ainda menos num futuro breve (chuto que perto de 30 em um par de anos).
 
Hoje, pode parecer profundamente injusto que voltemos a ficar “pobres” com relação aos preços no exterior, mas devemos levar em conta que os últimos anos foram exceção em um país cuja história econômica pode ser contada por meio de inúmeros episódios de crises cambias e desvalorizações. Um país relativamente pobre ter moeda muito apreciada é mais acidente do que mérito, e, infelizmente, muito da nossa força de trabalho só irá se manter empregada com competitividade internacional forçada por um câmbio muito depreciado. Enfim, nossa realidade não é pacote de compra de enxoval de bebê em Miami parcelado em 15 vezes, isso foi um delírio passageiro.

Como economista em uma turma de engenheiros, sempre sou perguntado sobre para onde acho que vai o câmbio toda vez que um amigo faz planos de viagem. No geral, respondo que tanto faz, já que ninguém vai deixar de viajar ou fazer compras por conta de mais ou menos 10% do gasto total. Isso ainda serve como resposta-padrão pensando poucos meses a frente; entretanto, quem tem uma agenda de viagens ambiciosa para anos deve se conformar que isso pode custar muito mais do que o inicialmente orçado. A era do real forte parece estar acabando, e entre os perdedores estão os turistas internacionais.

Luciano Sobral Trabalha como economista para financiar a humilde missão de conhecer o mundo.

terça-feira, 4 de junho de 2013

Dumbariboró - e Alá não precisa ser justo com tudo aqui em baixo (Alah n’es pas obligé)

Muito obrigado à MUNDUS por permitir a publicação de meus “bla-bla-blás” nesse delicioso espaço, agradeço por me incentivar a transpor alguns pensamentos do eternamente denso mundo das ideias para o claro e límpido papel.

Deixo aqui minha homenagem à entidades que iluminaram essas ideias:

...Ao livro Alá e as Crianças Soldado (tradução de Flavia Nascimento do original de Amadou Kouruma, Alah n’es pas obligé, Seuil, 2000),  foi minha introdução ao encantado, sinistro, apocalíptico e maravilhoso mundo do oeste africano, e que mostra de uma forma ímpar o poder das palavras escritas e das faladas, seu poder contra a barbárie e como algumas limitações das línguas hegemônicas europeias são insuficientes para VER os mundos africanos. Se tudo correr bem e se Amadou Kouruma estiver proseando bem com Alá e às Outras todas divindades que comandam essa bagunça aqui em baixo, esse road-book irá virar um road-movie...

...ao POVO da Guiné, aos tissus (tecidos) que adornam a gente por lá, mas são estampadas no Velho Mundo (que deveria ser chamado de Antiquado, não de velho, por que o velho é bom). e à Alma iluminada que iniciou esse recorte dos tecidos e padrões, que acrescidos de alguns lhes mostro...

 
 
 
 
 
 

 

 

 

esses últimos foram meus adendos, mesmo que mal fotografados...

    

numa quinta feira chuvosa de fins de maio na boa capital mineira, muito obrigado

Manuel
 

***dumbariboro.***.**

 

sexta-feira, 24 de maio de 2013

O amor não envelhece.


Ultimamente, tenho participado de algumas atividades beneficentes destinadas principalmente a idosos, em asilos carentes da periferia de São Paulo, são em torno de 10 asilos que visitamos em forma de revezamento, 1 por mês. Levamos um pouco de comida, fraldas e alguns produtos de higiene, de acordo com a necessidade de cada lugar. Entre amigos, fizemos uma campanha de arrecadação de fraldas geriátricas muito bacana, um detalhe muita gente nem lembra que existe, mas faz muita diferença no dia-a-dia  da vida destas pessoas
Mas o principal, e sobre o que eu quero falar , não é sobre os bens materiais que levamos. O mais importante, são os ouvidos e olhos para fazê-los sentirem-se especiais novamente
A Dona celeste tem 84 anos. Casaco cor do céu, óculos redondos e boca pequena, o que não impede de distribuir palavras doces e sorrisos tímidos. Ela tinha 2 filhos, 5 netos e 5 bisnetos. Seus olhos brilham quando fala deles. Infelizmente, sua filha mais velha morreu agora em outubro, com 70 anos. Sim, ela teve a primeira filha quando tinha apenas 14 anos, uma criança. Imagina quantas histórias bonitas, ou nem tanto, ela ainda tem pra contas, esperando apenas que alguém se interesse e guarde 20ou 30 minutos ao seu lado para ouvir “A gente fica tão feliz quando vocês vêm aqui” disse ela. A gente também fica Dona Celeste.
O Wilson é mais novo, 63anos. Homem forte sereno, olhos grandes e redondos. Lúcido e atento trabalhava como segurança de um famoso empresário de cantores. Durante 20 anos, protegeu e abriu espaço nas ruas e entradas de shows para o Roberto Carlos, Ney Matogrosso -seu preferido, Rita Lee, Caetano Veloso, Gal Costa, RPM, e mais um monte de artistas famosos. Gostava de viajar o Brasil inteiro. Tinha dias, que mal chegava à São Paulo e suas malas já estavam prontas pata outra viagem, nem saía do aeroporto. Eu falei pra ele que quando eu cantava aqui no escritório, o pessoal ficava tirando um sarro e pedindo pra eu parar. “Wilson, da próxima vez eu vou chamar você lá no escritório pra fazer a segurança pra mim”   Aí, ele deixou a serenidade de lado e sorriu como criança que acaba de fazer um gol.
O Seu Ernesto é descendente de alemães. Tem 68 anos, e garante que estava no asilo apenas como visitante e não mora lá. Muitos deles têm esta impressão ou sensação. Eu diria que é uma proteção sobre sua realidade. O Ernesto, muito simpático, tem um sorriso fácil e brilho nos olhos. Cabelo curto, meio grisalho, olhos semicerrados quando sorri. Era tradutor técnico em alemão, ainda trabalha, mas perdeu mercado por causa dos tradutores da internet. “Aí, todo mundo acha que sabe fazer tradução” Em casa, desde criança, a família só falava alemão, então foi fácil e natural. Agora o tempo andou, e ele só estava de visita, talvez este fosse o caminho para poder sorrir o dia inteiro em lugares que, apensar de todo o cuidado e dedicação dos mantenedores, carecem de encontros, toques e abraços.
Foi uma tarde que passou rápida. Muitos outros estão lá, fora de lá, espalhados pelo mundus todo, ou em nossas próprias casas, a espera de um olhar, um abraço, um ouvido, um entendimento, Às vezes a gente pensa que porque as pessoas perdem a capacidade motora, elas perdem a capacidade de sentir pensar e amar.
No fundo, quem perde somos nós que deixamos de acreditar nelas.
[Maurício Simões também vai envelhecer e vai precisar do seu abraço.]


quarta-feira, 15 de maio de 2013

Do que vou sentir falta de São Paulo


Daqui a alguns meses, depois de 33 anos morando em São Paulo, me despeço, temporariamente. O fato de, nesse tempo todo, eu nunca ter saído da cidade por mais que algumas semanas diz tanto sobre a minha preguiça para mudanças quanto a incrível quantidade de oportunidades, em todos os aspectos da vida, que encontrei aqui. É bastante fácil não gostar de São Paulo, sobretudo pela maldita trindade poluição / violência / trânsito; amar a cidade leva muito tempo, o suficiente para desenvolver certo senso de resignação e esquecer que existem lugares melhores no mundo (e, de qualquer maneira, o Tejo é belo, mas não é o rio que passa por aqui). Abaixo uma lista meio preguiçosa das coisas das quais acho que vou sentir saudades no próximo par de anos:
 
- Pastel de feira, clichê entre os clichês, mas minha comida de rua preferida do mundo todo. Mais ainda por, geralmente, carregar um gostinho de subversão, por estar se entupindo de massa frita, carne moída e queijo derretido antes de colocar qualquer outra coisa no estômago no dia (aliás, pastel existe em três sabores: carne, queijo e palmito. As demais variações são perversões desnecessárias do conceito). Feira livre também é uma delícia, mas esta tem equivalentes fora daqui (infelizmente não necessariamente com vendedores tão bem humorados).
 
- Poder beber na rua, sem necessidade de esconder a lata ou garrafa em um ridículo saquinho de papel. Poder comprar bebida a qualquer hora, em qualquer lugar, privilégio que muitos habitantes de paraísos da liberdade no mundo não têm. 

- Os shows do SESC. O modelo do SESC tem muito do que detesto no Brasil, sustentado por contribuições compulsórias e regressivo por natureza. Nesse caso, porém, vou ser egoísta e julgar pelos resultados, não pelo princípio. Como acho que ouvir música ao vivo é das atividades mais sublimes a que podemos nos dedicar, devo muitos dos pontos altos da minha vida ao SESC. Lá vi Banda Mantiqueira, Paulo Vanzolini, Paulinho da Viola, Ornette Coleman, Christian Scott, Chris Potter, Andre Mehmari & Hamilton de Holanda, Hermeto Pascoal, Yusef Lateef, Rosa Passos, etc, etc, etc; tudo barato, organizado, com ótima infraestrutura e em horários decentes. Civilização deve ser algo desse tipo.

- Os botecos, lugares mágicos onde o tempo se comprime e horas vão passando entre conversas sérias e reflexivas, discussões que nunca levam a lugar nenhum, bobagens irrepetíveis em outros ambientes, chopes, petiscos e talagadas irresponsáveis de steinhäger ou cachaça. Poucas coisas me deixam mais feliz do que reservar uma tarde e uma noite (e, possivelmente, a manhã seguinte, para lidar com a ressaca) para se dedicar a isso. Rei das Batidas, Zé Gordo, Pirajá, São Cristóvão, Empanadas, Frangó, Veloso, Zur Alten Mühle, Léo e aquele bar anônimo de esquina, que não fecha nunca e sempre tem cerveja gelada e uns petiscos meio suspeitos numa vitrine aquecida, um top 10 de coração.

- Andar na avenida Paulista, que pra mim segue sendo uma atração turística de primeira, dos melhores lugares que conheço para simplesmente ver gente (claro que também ajuda o monte de cinemas, livrarias, bares e restaurantes ao redor).

- Poder dirigir duas horas e meia (OK, com alguma sorte) e chegar às praias que são acompanhadas pela Rio-Santos. O litoral de São Sebastião a Ubatuba é magnífico, não deve nada a outros mais falados (mas não menos visitados). Concedo que também é ótimo poder pegar um voo de três quartos de hora e pousar no Rio de Janeiro, mas as saudades do Rio eu deixo para outro texto.

- Por fim, acima de tudo isso, das paulistanas e paulistanos, porque não se sai de um relacionamento tão intenso de três décadas sem criar raízes. Imagine fazer todas essas coisas supostamente legais listadas aí em cima sem companhia - pior ainda quando olho para trás e vejo que tive a sorte de encontrar aqui gente tão generosa e interessante, disposta a compartilhar de sua alegria de viver. Este humilde texto é, no fundo, uma homenagem a todos vocês.


Luciano Sobral - Trabalha como economista para financiar a humilde missão de conhecer o mundo

quinta-feira, 9 de maio de 2013

A Milha e os Limites do possível.

2ª feira agora fez 59 anos que caiu uma das maiores barreiras da história do esporte. O britânico Roger Bannister foi a primeira pessoa a correr 1 Milha (1609m) em menos de 4 minutos. Vem de longe essa paixão do simbolismo dos números cheios nas mais diversas atividades. No atletismo não é diferente. A fixação por esta marca levou por décadas centenas de corredores a tentar superá-la e entrar na história.
Hoje pode até causar estranheza o porquê tanta atenção tenha sido dedicada à busca, mas no começo do século passado matemáticos diziam ser impossível, treinadores diziam ser sobre-humano e médicos diziam que o coração humano simplesmente entraria em colapso correndo nesse ritmo.
Foi a coincidência que fez ainda com que uma semana atrás o americano de número 400 quebrasse a mesmíssima marca. Mais. No mesmo ano em que Bannister parou o relógio em 3:59.6, 37 (trinta e sete!) vezes outros atletas fizeram o mesmo. Dias depois do britânico, o recorde mundial já havia caído vertiginosamente. Por quê?
Às vezes, coisas tidas como impossíveis precisam se tornar tangíveis aos olhos de tantos outros pra que se crie a coragem necessária. Pode parecer clichê de filme de 2ª categoria, mas “por ele (Everest) estar lá”, alguém foi lá e fez. Ou ainda, “por não saber que era impossível, ele foi lá e fez”.
O melhor livro que reconta a saga de Roger Bannister, o The Perfect Mile, é primoroso ao retratar tão bem ainda a vida do americano Wes Santee e o australiano John Landy lutando na mesma época pela mesma quebra. No final de tudo, talvez seja inevitável que o autor queira nos fazer acreditar que tenha sido assim, você fica achando que a honra de entrar para a história tenha ficado com Roger não porque ele fosse o melhor atleta, mas porque ele mais do que ninguém tinha a certeza que correr abaixo de 4 minutos era possível. Assim no esporte, assim na vida?

Danilo Balu

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Dumbariboró...


O mapa digital, o mapa na mão, a revolução do ser errante.
Certa vez ouvi, não sei se em um boteco, em uma palestra, em uma aula ou em uma dessas madrugadas de puro “voyeurismo internético”:
“o nosso nível de felicidade já é e será cada vez mais regido pela aptidão de saber a dose e a forma certas de se relacionar com as maquinas...”.
Sei que esse tema já foi abordado por um colega desse blog, mas não me refiro à uma nova descoberta milagrosa de como obter felicidade ao alcance de seu iphone ou outro smartphone; ou da forma como dosar a sua vida pessoal (real) e sua vida no mundo virtual. Falo apenas da segunda maior revolução que esses espertos aparelhinhos nos possibilitam: Georreferenenciar o nosso caminhar!
Georreferenciar, provavelmente esse verbo não existe nos dicionários e meu corretor ortográfico tampouco o conhece, mas no meu meio de trabalho é um assunto recorrente; trata-se da arte de dar referencias espaciais a um determinado objeto, ou seja, atribui-se coordenadas geográficas, as velhas latitudes e longitudes da escola, lembram?
Há uns 20 anos apareceu um aparelhinho, GPS, que fornece as coordenadas de onde ele está, uma verdadeira revolução em muitas profissões, na Geologia de campo e nas navegações, nem se fale. Antes disso a definição de onde se estava e para onde se queria ir era feita com base em complicadíssimos cálculos geométricos com uso das estrelas, ou com um trabalho difícil de comparação entre um mapa topográfico (isso mesmo aquele das curvas de nível) e o relevo que estava ao seu redor (acreditem, não é fácil, e no tempo que eu estudei geologia os alunos aprendiam a fazer isso sem um GPS).
Aconteceu que hoje em dia, qualquer aparelhinho celular possui um bom GPS, e mais, você pode ver a sua localização sobre um belo mapa, ou imagem de satélite em aplicativos como o google maps, google Earth e muitos outros.
E no que raios isso revolucionou nossas vidas? Para quem trabalha no campo acredito que não preciso dizer, agora imaginem o tanto que comércios podem se beneficiar disso. Acredito que ainda veremos muitas novas ferramentas mas quem não virou dependente do google maps para chegar em qualquer lugar, e esses novos aplicativos para chamar taxi, e os mapas do céu ? as estrelas e seus nomes ao alcance de todos, facilitando e muito aquele velho xaveco romântico olhando pro céu. Mas a grande vantagem disso tudo acredito ser outra:
Gravar seus trajetos, ajudar nossa memoria que é tão carente de noção espacial, e nos mostrar onde foram tiradas as fotos, qual foi o caminho que o levou àquele restaurante maravilhoso. Isso com certeza ajuda muito a guardar mais sentimentos e sensações, ao ver seu trajeto, e visualizar o relevo, você se lembra de como estava cansado, do cheiro que sentiu a entrar na mata, da surpresa que teve ao atingir um mirante, aquele por do sol na praia...
Hoje fiz um belo passeio, aqui em BH, subi o parque das Mangabeiras, com direito a banho de cachoeira, vistas incríveis e um entendimento melhor da geografia  e geologia da cidade, que coisa maluca é uma cidade encostada na mata, numa serra resplandecente de onde se tira e se tirou muita riqueza, cidade erguida sobre as pedras que contem ferro. Um simples trajeto no google Earth me leva a vários pensamentos, a cidade, o poderio econômico, as rochas contendo ferro e seu belo relevo, e o contato com a natureza dentro da bela cidade, belas vistas, belas gerais.... e na chegada uma bela sardinha assada, que no vizinho só se assa no ultimo sábado do mês....

 
 
Caso alguém tenha interesse posso mostrar como se geram esses trajetos e como se exportam pro google Earth....vale perder uns minutinhos 
Belo Horizonte, capital do ferro, na borda do quadrilátero ferrífero em um 27 de abril ensolarado... †
 
Manuel Correa
 

terça-feira, 16 de abril de 2013

Não Conhecendo a Itália


Meu principal pecado de viajante: conheço quase cinquenta países e nunca pisei na Itália. Pior do que isso: não foi por falta de oportunidades, ou por algum acidente de percurso que atrapalhou a programação. Sempre evitei o país, em parte por preferir destinos que tenham mais potencial de me surpreender ou por achar que “sempre teremos a Itália” como destino relativamente fácil de visitar. Porém, acho que não vou conseguir aguentar mais tanto tempo, já que algumas obras de arte com que tive contato recentemente (como se precisasse algo mais além dos Michelangelos e Fellinis e Calvinos e tantos outros) fizeram questão de me bater na cara com o que estou perdendo e fazendo com que o país vá subindo na lista de prioridades.

Primeiro, os filmes de Ferzan Özpetek, um diretor turco há muitos anos radicado na Itália. Se é possível resumir sua obra em poucas palavras, ele conta histórias sobre relacionamentos e suas complicações - infidelidade, doença, preconceito, família. O que importa aqui, porém, é que os filmes sempre se aproveitam de cidades italianas magníficas: Roma, em muitos casos (Um Amor Quase Perfeito, A Janela da Frente, Saturno em Oposição) e a menos conhecida Lecce, na Puglia, bem na ponta do salto da bota (O Primeiro Que Disse). Fica parecendo que todas aquelas complicações ficam mais leves por lá, ou acabam resolvidas em uma mesa barulhenta e cheia de vinho e comida; e tudo parece mais dramático tendo como cenário de fundo lindas construções históricas.
 
Amor É Tudo o que Você Precisa, o filme mais recente de Susanne Bier, dinamarquesa que ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro em 2011 por Em um Mundo Melhor, leva o elenco (outros tantos dinamarqueses e o ex-James Bond Pierce Brosnan) para um casamento em Sorrento, na Campania, perto de Nápoles, Capri e Pompéia. A festa acontece em uma enorme propriedade cercada de uma plantação de limões, equilibrada de forma improvável nos penhascos que emergem do Mediterrâneo. É verão, claro, e Bier, provavelmente acostumada a filmar na pouco ensolarada Copenhague, não disfarça o encanto com a luz e as cores italianas.

Por fim, dois textos do escritor inglês Geoff Dyer. O primeiro é um capítulo de Ioga Para Quem Não Está Nem Aí, onde ele narra um verão preguiçoso em Roma, entre contemplação, mulheres e cerveja - aparentemente, não há lugar melhor no mundo para isso. O segundo é o romance Jeff em Veneza, Morte em Varanasi, onde, na primeira parte, o protagonista vai cobrir, como jornalista, a Bienal de Veneza. Arte contemporânea e festas decadentes se misturam com a tão conhecida sedução que a cidade exerce sobre seus visitantes. O mesmo livro, na segunda parte, fala de Varanasi, e aí já dá vontade de ir para a Índia, outra omissão pecaminosa na minha lista de países visitados. Arte longa, mundo extenso, vida breve
.

Luciano Sobral, trabalha como economista para financiar a humilde missão de conhecer o mundo.

sexta-feira, 12 de abril de 2013

A próxima viagem é só pra correr mesmo?!

Faz mais de 20 anos que em maior ou menor grau competitivo eu corro. Mas foi desde o meio do ano passado que até para me motivar eu havia colocado uma meta de viajar para correr provas. Meu pai é Sergipano e fazia anos que não visitava o estado natal dele. Outras capitais como BH eu pouco fui. Então por que não? E assim foi! Em Fevereiro e Março fechei uma rotina de ficar viajando para correr. Rio, POA, BH, Aracaju, Rio de novo...

Em um texto recente em uma revista de corrida o autor mostra de forma muito interessante que boa parte do sucesso de um corredor, seja ele profissional ou amador (e isso deve valer muito para outros esportes também) está na constância com que o atleta pratica a corrida. Seriam as tais 10.000 horas que não inventadas, foram tornadas famosas por Malcolm Gladwell em Outliers? Pode ser.

O que faz de alguém um bom corredor ao longo das décadas de prática é multifatorial e complexo (de novo, vale para outros esportes também), mas a regularidade e constância são atributos porque diminuem nossa dependência do acaso. Mas há outro ponto importante: o que te motiva?

Assim como as pessoas mudam, nossas motivações também mudam. Eu demorei esse tempo todo para ver que sair por aí viajando para correr era uma alternativa interessante. Um dos meus sonhos de consumo recentes é um dia ter dinheiro o suficiente para entrar no blog “Correr pelo Mundo” e sair escolhendo provas ao redor do planeta sem ter que fazer muita conta. Será que chego lá? Complicado.

Ano passado, por exemplo, consegui fazer uma prova de 24km cruzando 3 países (Itália, França e Mônaco). Já os conhecia, mas essa competição foi a minha desculpa perfeita para voltar à região. Este ano estou com muita coisa agendada e programada para ir para Estônia, Lituânia e Letônia. Fazer? Participar de uma prova em cada país. Quando me perguntam o porquê vou para lá, sou honesto e respondo: competir. Ao menos é assim que me engano e me convenço. Não sei o que exatamente está me levando a esses países (nem eu sei, além dessas corridas e da curiosidade), mas para a coisa ficar mais compreensiva para mim mesmo, eu falo que é para competir.

Enfim, a corrida e a atividade física como práticas, ou os outros hobbies artísticos como a música, são uma jornada longa e que em tese não deveriam ser só sazonais, justamente porque fazem um bem enorme a nós. Para chegarmos à constância, precisamos não só sermos metódicos para manter a prática, mas também ter um “porquê” mais intrínseco. Pelos próximos meses eu tenho o meu. E você?? O que o motiva??
 
Danilo Balu

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Dumbariboró: Sobre a solidão alegre dos que pensam calados


“Não evoluo, viajo

     Não viajo, sonho”

Fernando Pessoa


(sob o azul alfacinha, nos domínios de Dom Manuel, o Venturoso, Castelo de São Jorge, Lisboa) 

a solidão alegre, incorrigível, dos que sorriem mudos é contada pelos calcários e arenitos repletos de fósseis, que já contaram a extinção e deposição desses organismos, já contaram guerras, amores, louvores e traições neste castelo. que já festejaram nosso ouro e diamante. em busca do firmamento, uma mente que só pode sorrir, absorve a luz desse azul do céu, azul do Tejo, o amarelo e beje das pedras, o verde das árvores e suas pinhas, que caladas relembram o mundo, que já foi “desmundo”, mas sempre volta a ser mundo. nos passos de uma morena, com tanta ginga e sotaque, me surge a fatídica sina de um tipo de pessoas, que amam o não sorrir, a lamentar-se, síndrome da paulicéia, em que o não consumir é pecado é falta...

só o silêncio das almas que nunca se calam, falarão à este povo desolado...

só a solidão alegre dos que escrevem...

Escrevemos pois vemos

e vemos pois sorrimos

 
Manuel Corrêa, um texto escrito na saudosa Lisboa em idos de 2005

 

quinta-feira, 21 de março de 2013

O RIO E O OCEANO


“ Diz-se que, mesmo antes de um raio cair no oceano ele treme de medo.

Olha pra trás, para toda a jornada, os cumes, as montanhas, o longo caminho sinuoso através das florestas, através dos povoados, e vê à sua frente um oceano tão vasto que entrar nele nada mais é do que desaparecer para sempre.

 Mas não há outra maneira. O rio não pode voltar.
Ninguém pode voltar. Voltar é impossível na existência.
Você pode apenas ir em frente.
O rio precisa se arriscar e entrar no oceano
E somente quando ele entra no oceano é que o medo desaparece
Porque apenas então o rio saberá que não se trata de desaparecer no oceano, mas tornar-se oceano.
Por um lado é desaparecimento e por outro lado é renascimento

Assim somos nós
Só podemos ir em frente e arriscar.
Coragem! Avence firme e torne- se Oceano!!

 OSHO

terça-feira, 12 de março de 2013

Voando com a ajuda de milhões


 

Ouso começar este texto com uma afirmação difícil de ser verificada, mas que acredito ser verdadeira: não existe companhia aérea relevante no mundo que seja lucrativa durante um período maior do que um par de anos. Nos EUA, as grandes começaram, há algum tempo, uma onda de fusões com o objetivo, creio, de tornar as empresas resultantes em “grandes demais para quebrar” e facilitar o acesso a recursos públicos. Na Europa, mesmo empresas de países ricos e com histórico de gestão competente em outros setores não sobreviveram. A Swissair, que chegou a ser apelidada de “banco voador”, em razão de uma percebida estabilidade similar a dos famosos bancos suíços, quebrou em 2001 (no fim das contas, os bancos também não eram assim tão sólidos - os maiores precisaram de ajuda do governo para sobreviver à crise de 2007/2008). No fim do ano passado, a escandinava SAS precisou costurar um acordo com oito sindicatos para evitar (ou pelo menos adiar) uma falência. Aqui no Brasil, TAM e Gol, mesmo concentrando parte enorme das linhas, alternam lucros e prejuízos praticamente a cada ano. Não por acaso, as companhias atualmente mais prestigiadas, como Emirates, Qatar e Singapore, contam com grande suporte dos respectivos governos e grande tolerância a perdas. São mais demonstrações de poder e orgulho nacional do que empreendimentos capitalistas.

O fato de podermos voar pelo mundo a preços relativamente moderados (comparados ao passado não muito distante, muito baixos) deve-se, portanto, à generosidade oculta de pagadores de impostos, que até agora não se rebelaram e elegeram um político que prometesse acabar com a ajuda às companhias aéreas. Na verdade não há notícia que tal político tenha aparecido, e, caso apareça, provavelmente a bandeira não seria muito popular. O transporte aéreo, de um jeito torto, é considerado um bem público (do qual a maioria da população desfruta, direta ou indiretamente). Ainda que seu financiamento seja regressivo - todos pagam impostos, mas os mais pobres não conseguem comprar uma passagem de avião - a alternativa, acabar com as companhias aéreas ou forçá-las a cobrar pelas passagens um preço que garantiria uma margem de lucro segura, parece impensável.

Além do racional econômico, há como mencionei acima, uma questão intangível, de orgulho e identificação. Nas pistas de aeroportos pelo mundo, as distintas pinturas na fuselagem dos aviões de companhias internacionais são como bandeiras hasteadas, ou embaixadas com asas. No ar, são símbolos poderosos e fascinantes do domínio da natureza pelo homem. Resumiu bem esses sentimentos o grande Frank Zappa: “Você não pode ser um verdadeiro país se não tiver uma cerveja e uma companhia aérea.”

Portanto, toda vez que entrar em um avião rumo a seu destino preferido, não se esqueça de agradecer mentalmente a milhões de contribuintes anônimos que estão, indiretamente, subsidiando sua passagem; e sinta-se privilegiado por viver em um mundo onde a lógica econômica direta nem sempre predomina.

 Luciano Sobral, trabalha como economista para financiar a humilde missão de conhecer o mundo.