Ouso começar este texto com uma
afirmação difícil de ser verificada, mas que acredito ser verdadeira: não
existe companhia aérea relevante no mundo que seja lucrativa durante um período
maior do que um par de anos. Nos EUA, as grandes começaram, há algum tempo, uma
onda de fusões com o objetivo, creio, de tornar as empresas resultantes em
“grandes demais para quebrar” e facilitar o acesso a recursos públicos. Na
Europa, mesmo empresas de países ricos e com histórico de gestão competente em
outros setores não sobreviveram. A Swissair, que chegou a ser apelidada de
“banco voador”, em razão de uma percebida estabilidade similar a dos famosos
bancos suíços, quebrou em 2001 (no fim das contas, os bancos também não eram
assim tão sólidos - os maiores precisaram de ajuda do governo para sobreviver à
crise de 2007/2008). No fim do ano passado, a escandinava SAS precisou costurar
um acordo com oito sindicatos para evitar (ou pelo menos adiar) uma falência.
Aqui no Brasil, TAM e Gol, mesmo concentrando parte enorme das linhas, alternam
lucros e prejuízos praticamente a cada ano. Não por acaso, as companhias
atualmente mais prestigiadas, como Emirates, Qatar e Singapore, contam com
grande suporte dos respectivos governos e grande tolerância a perdas. São mais
demonstrações de poder e orgulho nacional do que empreendimentos capitalistas.
O fato de podermos voar pelo mundo a preços relativamente moderados (comparados ao passado não muito distante, muito baixos) deve-se, portanto, à generosidade oculta de pagadores de impostos, que até agora não se rebelaram e elegeram um político que prometesse acabar com a ajuda às companhias aéreas. Na verdade não há notícia que tal político tenha aparecido, e, caso apareça, provavelmente a bandeira não seria muito popular. O transporte aéreo, de um jeito torto, é considerado um bem público (do qual a maioria da população desfruta, direta ou indiretamente). Ainda que seu financiamento seja regressivo - todos pagam impostos, mas os mais pobres não conseguem comprar uma passagem de avião - a alternativa, acabar com as companhias aéreas ou forçá-las a cobrar pelas passagens um preço que garantiria uma margem de lucro segura, parece impensável.
Além do racional econômico, há como
mencionei acima, uma questão intangível, de orgulho e identificação. Nas pistas
de aeroportos pelo mundo, as distintas pinturas na fuselagem dos aviões de
companhias internacionais são como bandeiras hasteadas, ou embaixadas com asas.
No ar, são símbolos poderosos e fascinantes do domínio da natureza pelo homem. Resumiu
bem esses sentimentos o grande Frank Zappa: “Você não pode ser um verdadeiro
país se não tiver uma cerveja e uma companhia aérea.”
Portanto, toda vez que entrar em um avião rumo a seu destino preferido, não se esqueça de agradecer mentalmente a milhões de contribuintes anônimos que estão, indiretamente, subsidiando sua passagem; e sinta-se privilegiado por viver em um mundo onde a lógica econômica direta nem sempre predomina.
Luciano Sobral, trabalha como economista para financiar a humilde missão de conhecer o mundo.
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