Para um turista comum, é possível, com alguma paciência, visitar a Arábia Saudita, utilizando uma das cinco agências autorizadas pelo governo a emitir vistos. Porém, excluída a possibilidade de conhecer Medina e Meca, seria algo como ir a Jordânia e não poder visitar Petra. São as duas cidades mais sagradas do mundo islâmico: Medina guarda o túmulo do profeta Maomé e as três mesquitas mais antigas do planeta; Meca é o lugar de nascimento de Maomé, e uma peregrinação à cidade, conhecida como hajj, é obrigação para todos os muçulmanos que tenham condição de fazê-la.
É na época do hajj, entre o 8º e o 12º dias do calendário islâmico, que a cidade gera as imagens mais espetaculares: peregrinos inundam a cidade para completar os atos rituais que incluem sete voltas ao redor da Kaaba, construção em forma de cubo para onde são direcionadas as orações de muçulmanos em todo o mundo. Durante o hajj, cerca de seis milhões de pessoas (!!!) circundam a Kaaba em um mesmo dia. A logística que envolve o hajj é tão complexa que o governo saudita conta com um ministério dedicado inteiramente ao evento.
Há muito tempo o hajj fascina mentes ocidentais inquietas. Em 1853, o lendário explorador britânico Richard Francis Burton, depois de muito tempo de preparação e com um elaborado disfarce de médico afegão, chegou a Meca para o hajj. A viagem está descrita em grande detalhe no seu livro A Personal Narrative of a Pilgrimage to Al-Medinah
and Meccah e de forma mais leve e imparcial na ótima biografia de Burton escrita por Edward Rice (fácil de achar por aqui, saiu na coleção de bolso da Companhia das Letras). Mais recentemente, o repórter e fotógrafo americano Thomas J. Abercrombie, da National Geographic, foi o primeiro jornalista ocidental a cobrir a peregrinação, em 1966, não sem antes se converter ao Islã.
Parte do fascínio de viagens impossíveis está, evidentemente, em sua impossibilidade. Por mais que se conheça o mundo, sempre vai ficar a sensação de “estou perdendo algo espetacular” que só seria encontrado nesses lugares de acesso proibido. Parece muito remota a possibilidade de um dia a Arábia Saudita permitir que não-convertidos possam observar o hajj; enquanto isso, resta para nós compensar e fantasiar com as belas imagens dessa impressionante
manifestação, relatos como os de Burton e Abercrombie e ótima matéria recente do indiano muçulmano Basharat Peer para a New Yorker. Boa viagem impossível!
Sugestão de imagem para ilustrar: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgoPYtWXJRhuQa-nI_vmb1kti2hc_PJmcc78R3WLF-YXG5waGEVt-aFhyh5zo6z_txNxeoHNl3lz8gcNjc5-KJQ2-Zl3gNWYLmk0MLyKOnjr76ii63SJ0FnH-HWHeU43ptLWL0thyphenhyphen86aOqv/s1600/mecca-muslims-only-road-sign.JPG
Galeria de fotos de Thomas J. Abercrombie:
http://ngm.nationalgeographic.com/2006/08/tom-abercrombie/slideshow-interactive
Galeria de imagens do Hajj, no Boston Globe:
http://www.boston.com/bigpicture/2011/11/the_hajj_and_eid_al-adha.html
Basharat Peer para a New Yorker:
http://www.newyorker.com/reporting/2012/04/16/120416fa_fact_peer
Luciano Sobral, trabalha como economista para financiar a humilde missão de conhecer o mundo.
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