Não minto, uma frase me chamou bastante a atenção, não
que tenha mudado meus hábitos, mas apenas me reforçou aquilo que sempre
acreditei: “viajar é a única coisa que você compra que te deixa mais rico”.
Buscamos sempre as coisas com as quais concordamos,
sejam elas pessoas ou ideias. É mais cômodo, nos agride menos e nos faz ter aquela
agradabilíssima sensação de que estávamos (como sempre) certos. Talvez por isso
essa frase tenha ficado comigo mais do que tantas outras.
Viajar pode ser tudo. Férias para uns, terapia para
muitos. É a terapia mais dinâmica que conheço, e olha que corro todos os dias.
Mas correr cansa, te leva por muitos quilômetros, mas não para outro
continente.
Cada um tem suas preferências, isso é natural. Seja
buscar as multidões das grandes capitais dos países ricos, ou o bucólico de
paisagens quase inabitadas. Não tem melhor, não tem pior. Faço dos dois achando
que sou diferente. Duvido. Pode não ser sua vida, mas esse é o meu clube.
Mas de tudo isso, há uma coisa que sempre recomendo,
não importa o destino: procure uma vez que seja viajar sozinho para longe. Para
quem sempre está rodeado de pessoas ou vive conectado, nada pode tirá-lo mais
da zona de conforto do que estar rodeado de gente ao mesmo tempo em que se está
sozinho. Se for num lugar onde o idioma é uma barreira quase intransponível,
pouca coisa pode chocar mais. Um choque para o bem, uma sensação boa e única de
você estar lá, e quase que fora do ambiente ao mesmo tempo.
No silêncio dos locais menos povoados, a natureza vira testemunha das nossas reflexões, daquele exercício de pensar e refletir a vida por horas e dias sem conhecidos por perto. Só você e sua consciência como testemunhas e agentes de seu monólogo.
Poder olhar e observar o mar de gente que cruza a praça de forma apressada na correria de uma metrópole europeia, o andar vagaroso de um casal de velhinhos em uma antiga república socialista soviética, o ritual de compras de um religioso ortodoxo em uma feirinha de rua... Não há aquela interação comunicativa da conversa por palavras, mas nosso olhar vendo os “hermanos” tão próximos e tão distantes em uma pequena cidade argentina são todos exemplos de uma troca. Sem dizer uma palavra você conversa com o ambiente e consigo mesmo. Coloca-se no lugar, entende mais, vive mais. Enxerga em realidades de culturas tão diferentes concluindo que, se não estamos nem de longe bem, como a patriotada tenta nos convencer, não estamos mal quanto grita uma oposição em campanha.
O brilho e o encantador de poder viajar sozinho para lugares diferentes é poder refletir na sua terapia e na sua solidão; é poder conversar tanto com tanta gente, tantos povos e culturas sem ser preciso sequer falar o idioma. Na verdade, não é preciso sequer falar nem dizer nada. Basta estar aberto para olhar, mais do que isso, para observar e aprender, ainda que ali, naquele momento, você não saiba exatamente o quanto nem o quê.
Danilo Balu, Administrador Esportivo.
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