A cada 4 anos uma cidade é a escolhida como palco da maior
confraternização esportiva do planeta. Mais de 10.000 dos melhores atletas do
mundo se reúnem disputando medalhas no evento que é o sonho da maioria que já
praticou algum esporte ou um jogo que seja. Durante duas semanas se formam
histórias que relembraremos a cada nova edição, se constroem mitos, heróis,
vilões. Enfim, se faz muita história.
A mera aproximação dos Jogos Olímpicos muda a rotina de muita
gente. Sou apaixonado por esporte, um assíduo fã de algumas modalidades em
especial, mas esse evento me transforma, mesmo que por apenas 2 semanas. É
quando algumas modalidades esquecidas saem do estado de hibernação para virar
manchete de jornal e assunto entre amigos, e o Pentatlo Moderno está aí que não
me deixa mentir.
A vida é cruel, por mais esforçado que você seja, as pessoas
querem ver os melhores. Todo o seu esforço e ser veloz é vil quando entra na
pista o jamaicano Usain Bolt. É neles que fixam todos os olhos. Queremos
saber quem são os mais rápidos, os mais fortes, os mais resistentes. Em suma,
queremos saber quem é o melhor!
Porém, parece haver quase algo sobre-humano que nos distancia da
capacidade atlética desses privilegiados. Você provavelmente não conhece quem
possa fazer parecido. Mas nada mais humano que a falibilidade. Se a destreza
atlética desses protagonistas nos distancia, é justamente seu lado humano, suas
fraquezas emocionais e os dramas que nos aproximam.
Por mais fortes que sejam, dessa emoção tão humana compartilhamos,
temos empatia, sofremos juntos, mesmo sem precisar sequer saber o idioma do
atleta. O período pode até ser curto, mas é intenso. Às vezes bate uma preguiça
quando você reconhece quando algumas equipes de TV querem apenas criar o novo
herói, mas é inevitável, naturalmente eles vão aparecendo, principalmente
quando temos competições e uma vontade enorme de competir e vencer todas juntas
e misturadas.
Provavelmente uma das principais imagens desses Jogos fique na
elegante esgrima. Por um desconcertante equívoco da equipe de cronometragem, a
sul-coreana Shin Lam se viu no local da competição sem poder de lá sair
após a derrota por um capricho da regra que diz que a saída sinalizaria sua
desistência. E lá ela ficou aguardando sob choro o resultado do pedido de
recurso para que não fosse eliminada na semifinal. Em vão. Por uma hora ela foi
a protagonista da cena dos Jogos. E saiu injustamente derrotada. Nascia a
primeira heroína dos Jogos de Londres
Os bons são maioria
Mas mais belas imagens estavam por vir. Na semifinal dos 400m, o
jovem campeão mundial de Granada na juventude de seus 19 anos, Kirani James,
após vencer sua série cumprimenta a todos e se dirige humildemente ao
bi-amputado sul-africano Oscar Pistorious. Num gesto completamente
incomum, ele inventa a troca de números de peito, para emoção de quem viu a
cena.
Nessa mesma pista de atletismo, a barreirista Lolo Jones
(EUA) consolou a jamaicana Brigitte Foster-Hylton que foi
eliminada após tropeçar durante a prova de 100m com barreiras. O que pode haver
de tão especial nessa cena? Talvez a maioria dos presentes não soubesse, mas
nos Jogos de Pequim em 2008 a bela americana era a franca favorita ao ouro
nessa prova e tropeçou em uma barreira na final a poucos metros da chegada que
liderava com folga. Talvez ninguém melhor no mundo do que Jones naquele momento
sabia o que a jamaicana precisava ouvir.
Por fim, quase que por capricho, a última prova do atletismo ainda
parecia reservar mais brilho. Por um lado os jamaicanos encantam o mundo
quebrando mais um recorde mundial por larguíssima margem. Longe deles, mas
pertíssimo do pódio, a surpreendente equipe canadense de 4x100m comemora
uma medalha inédita há 16 anos nessa prova. Porém, um cruel vacilo da
arbitragem gera um drama enorme. A equipe canadense foi anunciada como bronze,
mas momentos depois foram desclassificados por uma infração. Em instantes, 4
homens enormes como velocistas de classe mundial passaram da euforia desmedida
a um choro copioso. Quem foi consolá-los? Os atletas de Trinidad e Tobago,
justamente a equipe que herdou o bronze que já havia sido anunciado ao Canadá.
Não dá pra dizer com precisão o que faz dos Jogos Olímpicos algo
tão atraente. A vontade dos que amam o evento é que ele durasse mais, muito
mais. São 2 semanas pelas quais aguardamos por 4 anos. Talvez se fosse mais
longo, perdesse parte da graça. Mas a cada recorde, a cada vitória dramática, a
cada gesto e dramas tão humanos, fica a certeza que vale a pena, sim, esperar
tanto.