terça-feira, 21 de agosto de 2012

Por que vale a pena esperar 4 anos


A cada 4 anos uma cidade é a escolhida como palco da maior confraternização esportiva do planeta. Mais de 10.000 dos melhores atletas do mundo se reúnem disputando medalhas no evento que é o sonho da maioria que já praticou algum esporte ou um jogo que seja. Durante duas semanas se formam histórias que relembraremos a cada nova edição, se constroem mitos, heróis, vilões. Enfim, se faz muita história.
A mera aproximação dos Jogos Olímpicos muda a rotina de muita gente. Sou apaixonado por esporte, um assíduo fã de algumas modalidades em especial, mas esse evento me transforma, mesmo que por apenas 2 semanas. É quando algumas modalidades esquecidas saem do estado de hibernação para virar manchete de jornal e assunto entre amigos, e o Pentatlo Moderno está aí que não me deixa mentir.
A vida é cruel, por mais esforçado que você seja, as pessoas querem ver os melhores. Todo o seu esforço e ser veloz é vil quando entra na pista o jamaicano Usain Bolt. É neles que fixam todos os olhos. Queremos saber quem são os mais rápidos, os mais fortes, os mais resistentes. Em suma, queremos saber quem é o melhor!
Porém, parece haver quase algo sobre-humano que nos distancia da capacidade atlética desses privilegiados. Você provavelmente não conhece quem possa fazer parecido. Mas nada mais humano que a falibilidade. Se a destreza atlética desses protagonistas nos distancia, é justamente seu lado humano, suas fraquezas emocionais e os dramas que nos aproximam.
Por mais fortes que sejam, dessa emoção tão humana compartilhamos, temos empatia, sofremos juntos, mesmo sem precisar sequer saber o idioma do atleta. O período pode até ser curto, mas é intenso. Às vezes bate uma preguiça quando você reconhece quando algumas equipes de TV querem apenas criar o novo herói, mas é inevitável, naturalmente eles vão aparecendo, principalmente quando temos competições e uma vontade enorme de competir e vencer todas juntas e misturadas.
Provavelmente uma das principais imagens desses Jogos fique na elegante esgrima. Por um desconcertante equívoco da equipe de cronometragem, a sul-coreana Shin Lam se viu no local da competição sem poder de lá sair após a derrota por um capricho da regra que diz que a saída sinalizaria sua desistência. E lá ela ficou aguardando sob choro o resultado do pedido de recurso para que não fosse eliminada na semifinal. Em vão. Por uma hora ela foi a protagonista da cena dos Jogos. E saiu injustamente derrotada. Nascia a primeira heroína dos Jogos de Londres


Os bons são maioria
Mas mais belas imagens estavam por vir. Na semifinal dos 400m, o jovem campeão mundial de Granada na juventude de seus 19 anos, Kirani James, após vencer sua série cumprimenta a todos e se dirige humildemente ao bi-amputado sul-africano Oscar Pistorious. Num gesto completamente incomum, ele inventa a troca de números de peito, para emoção de quem viu a cena.


Nessa mesma pista de atletismo, a barreirista Lolo Jones (EUA) consolou a jamaicana Brigitte Foster-Hylton que foi eliminada após tropeçar durante a prova de 100m com barreiras. O que pode haver de tão especial nessa cena? Talvez a maioria dos presentes não soubesse, mas nos Jogos de Pequim em 2008 a bela americana era a franca favorita ao ouro nessa prova e tropeçou em uma barreira na final a poucos metros da chegada que liderava com folga. Talvez ninguém melhor no mundo do que Jones naquele momento sabia o que a jamaicana precisava ouvir.


Por fim, quase que por capricho, a última prova do atletismo ainda parecia reservar mais brilho. Por um lado os jamaicanos encantam o mundo quebrando mais um recorde mundial por larguíssima margem. Longe deles, mas pertíssimo do pódio, a surpreendente equipe canadense de 4x100m comemora uma medalha inédita há 16 anos nessa prova. Porém, um cruel vacilo da arbitragem gera um drama enorme. A equipe canadense foi anunciada como bronze, mas momentos depois foram desclassificados por uma infração. Em instantes, 4 homens enormes como velocistas de classe mundial passaram da euforia desmedida a um choro copioso. Quem foi consolá-los? Os atletas de Trinidad e Tobago, justamente a equipe que herdou o bronze que já havia sido anunciado ao Canadá.


Não dá pra dizer com precisão o que faz dos Jogos Olímpicos algo tão atraente. A vontade dos que amam o evento é que ele durasse mais, muito mais. São 2 semanas pelas quais aguardamos por 4 anos. Talvez se fosse mais longo, perdesse parte da graça. Mas a cada recorde, a cada vitória dramática, a cada gesto e dramas tão humanos, fica a certeza que vale a pena, sim, esperar tanto.

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