quarta-feira, 12 de junho de 2013

Câmbio, esse inconveniente

Parece incrível, mas houve um tempo (e não faz tanto tempo assim) em que brasileiros que moravam no exterior e estavam para ter filhos pediam para visitantes que levassem roupas, brinquedos e demais acessórios. Também houve um tempo em que Miami era destino de turismo só para os muito ricos, e, no sentido contrário, o Brasil era local de férias baratas até para argentinos, que invadiam as praias de Santa Catarina com suas garrafas térmicas e cuias de mate.

Desde então, o Brasil até ficou mais rico, mas o que mudou de verdade foi a variável que regula nossa riqueza relativa contra o resto do mundo: a taxa de câmbio. Nos últimos dez anos, quase ininterruptamente os reais ganhos aqui foram sendo capazes de comprar mais e mais moeda estrangeira, até o ponto em que o preço de praticamente qualquer produto comprado nos EUA é menor do que os praticados aqui. Tenho amigos que enchem as malas não só dos habituais eletrônicos, mas também de bebidas, pilhas, livros, cotonetes, cápsulas de café, e a lista poderia seguir até o infinito.

Ocorre que, independente de qualquer culpa judaico-cristã (“não há prazer sem punição”), os anos de bonança acabam por plantar sua própria destruição: o resultado final do aumento nas importações (não só de turistas, evidentemente) é um desequilíbrio nas contas externas, que faz com que o câmbio se deprecie e torne novamente os preços no exterior relativamente caros. No Brasil, isso parece estar acontecendo de forma acelerada: 100 reais já chegaram a comprar 62 dólares; hoje compram pouco mais de 46 e há certo consenso que vão comprar ainda menos num futuro breve (chuto que perto de 30 em um par de anos).
 
Hoje, pode parecer profundamente injusto que voltemos a ficar “pobres” com relação aos preços no exterior, mas devemos levar em conta que os últimos anos foram exceção em um país cuja história econômica pode ser contada por meio de inúmeros episódios de crises cambias e desvalorizações. Um país relativamente pobre ter moeda muito apreciada é mais acidente do que mérito, e, infelizmente, muito da nossa força de trabalho só irá se manter empregada com competitividade internacional forçada por um câmbio muito depreciado. Enfim, nossa realidade não é pacote de compra de enxoval de bebê em Miami parcelado em 15 vezes, isso foi um delírio passageiro.

Como economista em uma turma de engenheiros, sempre sou perguntado sobre para onde acho que vai o câmbio toda vez que um amigo faz planos de viagem. No geral, respondo que tanto faz, já que ninguém vai deixar de viajar ou fazer compras por conta de mais ou menos 10% do gasto total. Isso ainda serve como resposta-padrão pensando poucos meses a frente; entretanto, quem tem uma agenda de viagens ambiciosa para anos deve se conformar que isso pode custar muito mais do que o inicialmente orçado. A era do real forte parece estar acabando, e entre os perdedores estão os turistas internacionais.

Luciano Sobral Trabalha como economista para financiar a humilde missão de conhecer o mundo.

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