Desde então, o Brasil até ficou mais rico, mas o que mudou de verdade
foi a variável que regula nossa riqueza relativa contra o resto do mundo: a
taxa de câmbio. Nos últimos dez anos, quase ininterruptamente os reais ganhos
aqui foram sendo capazes de comprar mais e mais moeda estrangeira, até o ponto
em que o preço de praticamente qualquer produto comprado nos EUA é menor do que
os praticados aqui. Tenho amigos que enchem as malas não só dos habituais
eletrônicos, mas também de bebidas, pilhas, livros, cotonetes, cápsulas de
café, e a lista poderia seguir até o infinito.
Ocorre que, independente de qualquer culpa judaico-cristã (“não há
prazer sem punição”), os anos de bonança acabam por plantar sua própria
destruição: o resultado final do aumento nas importações (não só de turistas,
evidentemente) é um desequilíbrio nas contas externas, que faz com que o câmbio
se deprecie e torne novamente os preços no exterior relativamente caros. No
Brasil, isso parece estar acontecendo de forma acelerada: 100 reais já chegaram
a comprar 62 dólares; hoje compram pouco mais de 46 e há certo consenso que vão
comprar ainda menos num futuro breve (chuto que perto de 30 em um par de anos).
Hoje, pode parecer profundamente injusto que voltemos a ficar “pobres”
com relação aos preços no exterior, mas devemos levar em conta que os últimos
anos foram exceção em um país cuja história econômica pode ser contada por meio
de inúmeros episódios de crises cambias e desvalorizações. Um país
relativamente pobre ter moeda muito apreciada é mais acidente do que mérito, e,
infelizmente, muito da nossa força de trabalho só irá se manter empregada com
competitividade internacional forçada por um câmbio muito depreciado. Enfim,
nossa realidade não é pacote de compra de enxoval de bebê em Miami parcelado em
15 vezes, isso foi um delírio passageiro.
Como economista em uma turma de engenheiros, sempre sou perguntado sobre para onde acho que vai o câmbio toda vez que um amigo faz planos de viagem. No geral, respondo que tanto faz, já que ninguém vai deixar de viajar ou fazer compras por conta de mais ou menos 10% do gasto total. Isso ainda serve como resposta-padrão pensando poucos meses a frente; entretanto, quem tem uma agenda de viagens ambiciosa para anos deve se conformar que isso pode custar muito mais do que o inicialmente orçado. A era do real forte parece estar acabando, e entre os perdedores estão os turistas internacionais.
Luciano Sobral Trabalha como economista para financiar a humilde missão de conhecer o mundo.
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