terça-feira, 16 de abril de 2013

Não Conhecendo a Itália


Meu principal pecado de viajante: conheço quase cinquenta países e nunca pisei na Itália. Pior do que isso: não foi por falta de oportunidades, ou por algum acidente de percurso que atrapalhou a programação. Sempre evitei o país, em parte por preferir destinos que tenham mais potencial de me surpreender ou por achar que “sempre teremos a Itália” como destino relativamente fácil de visitar. Porém, acho que não vou conseguir aguentar mais tanto tempo, já que algumas obras de arte com que tive contato recentemente (como se precisasse algo mais além dos Michelangelos e Fellinis e Calvinos e tantos outros) fizeram questão de me bater na cara com o que estou perdendo e fazendo com que o país vá subindo na lista de prioridades.

Primeiro, os filmes de Ferzan Özpetek, um diretor turco há muitos anos radicado na Itália. Se é possível resumir sua obra em poucas palavras, ele conta histórias sobre relacionamentos e suas complicações - infidelidade, doença, preconceito, família. O que importa aqui, porém, é que os filmes sempre se aproveitam de cidades italianas magníficas: Roma, em muitos casos (Um Amor Quase Perfeito, A Janela da Frente, Saturno em Oposição) e a menos conhecida Lecce, na Puglia, bem na ponta do salto da bota (O Primeiro Que Disse). Fica parecendo que todas aquelas complicações ficam mais leves por lá, ou acabam resolvidas em uma mesa barulhenta e cheia de vinho e comida; e tudo parece mais dramático tendo como cenário de fundo lindas construções históricas.
 
Amor É Tudo o que Você Precisa, o filme mais recente de Susanne Bier, dinamarquesa que ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro em 2011 por Em um Mundo Melhor, leva o elenco (outros tantos dinamarqueses e o ex-James Bond Pierce Brosnan) para um casamento em Sorrento, na Campania, perto de Nápoles, Capri e Pompéia. A festa acontece em uma enorme propriedade cercada de uma plantação de limões, equilibrada de forma improvável nos penhascos que emergem do Mediterrâneo. É verão, claro, e Bier, provavelmente acostumada a filmar na pouco ensolarada Copenhague, não disfarça o encanto com a luz e as cores italianas.

Por fim, dois textos do escritor inglês Geoff Dyer. O primeiro é um capítulo de Ioga Para Quem Não Está Nem Aí, onde ele narra um verão preguiçoso em Roma, entre contemplação, mulheres e cerveja - aparentemente, não há lugar melhor no mundo para isso. O segundo é o romance Jeff em Veneza, Morte em Varanasi, onde, na primeira parte, o protagonista vai cobrir, como jornalista, a Bienal de Veneza. Arte contemporânea e festas decadentes se misturam com a tão conhecida sedução que a cidade exerce sobre seus visitantes. O mesmo livro, na segunda parte, fala de Varanasi, e aí já dá vontade de ir para a Índia, outra omissão pecaminosa na minha lista de países visitados. Arte longa, mundo extenso, vida breve
.

Luciano Sobral, trabalha como economista para financiar a humilde missão de conhecer o mundo.

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