Meu principal pecado de viajante: conheço quase cinquenta países e nunca
pisei na Itália. Pior do que isso: não foi por falta de oportunidades, ou por
algum acidente de percurso que atrapalhou a programação. Sempre evitei o país,
em parte por preferir destinos que tenham mais potencial de me surpreender ou
por achar que “sempre teremos a Itália” como destino relativamente fácil de
visitar. Porém, acho que não vou conseguir aguentar mais tanto tempo, já que
algumas obras de arte com que tive contato recentemente (como se precisasse
algo mais além dos Michelangelos e Fellinis e Calvinos e tantos outros) fizeram
questão de me bater na cara com o que estou perdendo e fazendo com que o país
vá subindo na lista de prioridades.
Primeiro, os filmes de Ferzan Özpetek, um diretor turco há muitos anos
radicado na Itália. Se é possível resumir sua obra em poucas palavras, ele
conta histórias sobre relacionamentos e suas complicações - infidelidade,
doença, preconceito, família. O que importa aqui, porém, é que os filmes sempre
se aproveitam de cidades italianas magníficas: Roma, em muitos casos (Um
Amor Quase Perfeito, A Janela da Frente, Saturno em Oposição)
e a menos conhecida Lecce, na Puglia, bem na ponta do salto da bota (O
Primeiro Que Disse). Fica parecendo que todas aquelas complicações ficam
mais leves por lá, ou acabam resolvidas em uma mesa barulhenta e cheia de vinho
e comida; e tudo parece mais dramático tendo como cenário de fundo lindas
construções históricas.
Por fim, dois textos do escritor inglês Geoff Dyer. O primeiro é um capítulo de Ioga Para Quem Não Está Nem Aí, onde ele narra um verão preguiçoso em Roma, entre contemplação, mulheres e cerveja - aparentemente, não há lugar melhor no mundo para isso. O segundo é o romance Jeff em Veneza, Morte em Varanasi, onde, na primeira parte, o protagonista vai cobrir, como jornalista, a Bienal de Veneza. Arte contemporânea e festas decadentes se misturam com a tão conhecida sedução que a cidade exerce sobre seus visitantes. O mesmo livro, na segunda parte, fala de Varanasi, e aí já dá vontade de ir para a Índia, outra omissão pecaminosa na minha lista de países visitados. Arte longa, mundo extenso, vida breve.
Luciano Sobral, trabalha como economista para financiar a humilde missão de conhecer o mundo.
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