segunda-feira, 1 de julho de 2013

Dumbariboró,em Colombia, e se um dia a humanidade voltasse a fazer arte assim...?

Ver o museu do ouro em Bogotá e não se embasbacar com o simples deleite das formas aprazíveis, elegantes, sinceras, doces, transparentes e detentoras de uma vida, um significado, é uma penitencia que não deveria ser imposta à ser humano nenhum. O requinte é tamanho dessas OBRAS PRIMAS que apenas admira-las sem pensar no seu valor étnico-moral-científico-espiritual (que para nós  é imensurável) já nos traz tantas emoções positivas estimulantes. é difícil imaginar um patamar de desenvolvimento técnico estético econômico tão elevado para produzir tão sofisticada arte. Por essas e por compreender que o domínio sobre os saberes da geologia sempre nortearam os homo sapiens; visitar esse acervo é presenciar, viver, um dos maiores patrimônios culturais que o sistema mercantilista, global, capitalista pôde produzir.


 
 
 
 
 
 
 


 
 
 
 


isso sem falar na inacreditável CATEDRAL DE SAL.. pertinho de Bogotá, outra aula de religião, fé e conhecimento do saber geológico…



 
BELO HORIZONTE, 25 DE JUNHO
.Manuel Correa
 
 
 

terça-feira, 18 de junho de 2013

Então não são pelos 20 centavos?

Acho que não importa muito a posição partidária, parece haver quase consenso que houve excessos tanto por parte da PM (e seus batalhões especiais) quanto por parte dos manifestantes, assumidamente orientados também por grupos partidários. Nessa confusão toda, não há ninguém com toda a razão e nem os totalmente inocentes.
De qual lado estou? Todos nós estamos do lado certo, cada um com sua justificativa. Eu confesso que parei de ler a maioria dos textos que me chegavam porque fiquei desanimado, pessimista, nervoso. As duas turmas possuem argumentos muito bons, você nem precisa concordar com a causa, mas tem algo nessa história da qual não consigo abrir mão quando avalio: se cada um de nós resolver mudar a lei para justificar transgressões, como já foi dito por alguém, é bom cada um carregar o seu porrete.
Eu moro a cerca de 5 quadras da Avenida Paulista, em São Paulo. Aqui é local de muitas manifestações. Todas elas transformam para pior o já horroroso trânsito de São Paulo, mas viver numa democracia é isso, saber conviver com a decisão de uma maioria respeitando a da minoria. O direito ao protesto todos têm, desde que sigam as regras, no caso, a Lei. Fico imaginando se todo mundo se sentir no direito de fechar avenidas. Literalmente não sairíamos do lugar.
Enfim, as vaias à presidente Dilma e os protestos feitos em cidades de diferentes partidos vão deixando claro que realmente a discussão de quantos centavos aumentou a passagem é secundário, há é uma insatisfação geral às vésperas de algo que consumiu bilhões de reais para um evento de uma entidade privada, a FIFA.
Independente de qual o “seu lado” (com certeza você acha que é o certo), fica claro que numa Democracia, se todo mundo tomar para si o direito de que podemos parar a cidade para que ouçam nossa reivindicação, é melhor rasgarmos a constituição e pularmos direto pra barbárie. Economizaremos tempo.

Danilo Balu

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Câmbio, esse inconveniente

Parece incrível, mas houve um tempo (e não faz tanto tempo assim) em que brasileiros que moravam no exterior e estavam para ter filhos pediam para visitantes que levassem roupas, brinquedos e demais acessórios. Também houve um tempo em que Miami era destino de turismo só para os muito ricos, e, no sentido contrário, o Brasil era local de férias baratas até para argentinos, que invadiam as praias de Santa Catarina com suas garrafas térmicas e cuias de mate.

Desde então, o Brasil até ficou mais rico, mas o que mudou de verdade foi a variável que regula nossa riqueza relativa contra o resto do mundo: a taxa de câmbio. Nos últimos dez anos, quase ininterruptamente os reais ganhos aqui foram sendo capazes de comprar mais e mais moeda estrangeira, até o ponto em que o preço de praticamente qualquer produto comprado nos EUA é menor do que os praticados aqui. Tenho amigos que enchem as malas não só dos habituais eletrônicos, mas também de bebidas, pilhas, livros, cotonetes, cápsulas de café, e a lista poderia seguir até o infinito.

Ocorre que, independente de qualquer culpa judaico-cristã (“não há prazer sem punição”), os anos de bonança acabam por plantar sua própria destruição: o resultado final do aumento nas importações (não só de turistas, evidentemente) é um desequilíbrio nas contas externas, que faz com que o câmbio se deprecie e torne novamente os preços no exterior relativamente caros. No Brasil, isso parece estar acontecendo de forma acelerada: 100 reais já chegaram a comprar 62 dólares; hoje compram pouco mais de 46 e há certo consenso que vão comprar ainda menos num futuro breve (chuto que perto de 30 em um par de anos).
 
Hoje, pode parecer profundamente injusto que voltemos a ficar “pobres” com relação aos preços no exterior, mas devemos levar em conta que os últimos anos foram exceção em um país cuja história econômica pode ser contada por meio de inúmeros episódios de crises cambias e desvalorizações. Um país relativamente pobre ter moeda muito apreciada é mais acidente do que mérito, e, infelizmente, muito da nossa força de trabalho só irá se manter empregada com competitividade internacional forçada por um câmbio muito depreciado. Enfim, nossa realidade não é pacote de compra de enxoval de bebê em Miami parcelado em 15 vezes, isso foi um delírio passageiro.

Como economista em uma turma de engenheiros, sempre sou perguntado sobre para onde acho que vai o câmbio toda vez que um amigo faz planos de viagem. No geral, respondo que tanto faz, já que ninguém vai deixar de viajar ou fazer compras por conta de mais ou menos 10% do gasto total. Isso ainda serve como resposta-padrão pensando poucos meses a frente; entretanto, quem tem uma agenda de viagens ambiciosa para anos deve se conformar que isso pode custar muito mais do que o inicialmente orçado. A era do real forte parece estar acabando, e entre os perdedores estão os turistas internacionais.

Luciano Sobral Trabalha como economista para financiar a humilde missão de conhecer o mundo.

terça-feira, 4 de junho de 2013

Dumbariboró - e Alá não precisa ser justo com tudo aqui em baixo (Alah n’es pas obligé)

Muito obrigado à MUNDUS por permitir a publicação de meus “bla-bla-blás” nesse delicioso espaço, agradeço por me incentivar a transpor alguns pensamentos do eternamente denso mundo das ideias para o claro e límpido papel.

Deixo aqui minha homenagem à entidades que iluminaram essas ideias:

...Ao livro Alá e as Crianças Soldado (tradução de Flavia Nascimento do original de Amadou Kouruma, Alah n’es pas obligé, Seuil, 2000),  foi minha introdução ao encantado, sinistro, apocalíptico e maravilhoso mundo do oeste africano, e que mostra de uma forma ímpar o poder das palavras escritas e das faladas, seu poder contra a barbárie e como algumas limitações das línguas hegemônicas europeias são insuficientes para VER os mundos africanos. Se tudo correr bem e se Amadou Kouruma estiver proseando bem com Alá e às Outras todas divindades que comandam essa bagunça aqui em baixo, esse road-book irá virar um road-movie...

...ao POVO da Guiné, aos tissus (tecidos) que adornam a gente por lá, mas são estampadas no Velho Mundo (que deveria ser chamado de Antiquado, não de velho, por que o velho é bom). e à Alma iluminada que iniciou esse recorte dos tecidos e padrões, que acrescidos de alguns lhes mostro...

 
 
 
 
 
 

 

 

 

esses últimos foram meus adendos, mesmo que mal fotografados...

    

numa quinta feira chuvosa de fins de maio na boa capital mineira, muito obrigado

Manuel
 

***dumbariboro.***.**

 

sexta-feira, 24 de maio de 2013

O amor não envelhece.


Ultimamente, tenho participado de algumas atividades beneficentes destinadas principalmente a idosos, em asilos carentes da periferia de São Paulo, são em torno de 10 asilos que visitamos em forma de revezamento, 1 por mês. Levamos um pouco de comida, fraldas e alguns produtos de higiene, de acordo com a necessidade de cada lugar. Entre amigos, fizemos uma campanha de arrecadação de fraldas geriátricas muito bacana, um detalhe muita gente nem lembra que existe, mas faz muita diferença no dia-a-dia  da vida destas pessoas
Mas o principal, e sobre o que eu quero falar , não é sobre os bens materiais que levamos. O mais importante, são os ouvidos e olhos para fazê-los sentirem-se especiais novamente
A Dona celeste tem 84 anos. Casaco cor do céu, óculos redondos e boca pequena, o que não impede de distribuir palavras doces e sorrisos tímidos. Ela tinha 2 filhos, 5 netos e 5 bisnetos. Seus olhos brilham quando fala deles. Infelizmente, sua filha mais velha morreu agora em outubro, com 70 anos. Sim, ela teve a primeira filha quando tinha apenas 14 anos, uma criança. Imagina quantas histórias bonitas, ou nem tanto, ela ainda tem pra contas, esperando apenas que alguém se interesse e guarde 20ou 30 minutos ao seu lado para ouvir “A gente fica tão feliz quando vocês vêm aqui” disse ela. A gente também fica Dona Celeste.
O Wilson é mais novo, 63anos. Homem forte sereno, olhos grandes e redondos. Lúcido e atento trabalhava como segurança de um famoso empresário de cantores. Durante 20 anos, protegeu e abriu espaço nas ruas e entradas de shows para o Roberto Carlos, Ney Matogrosso -seu preferido, Rita Lee, Caetano Veloso, Gal Costa, RPM, e mais um monte de artistas famosos. Gostava de viajar o Brasil inteiro. Tinha dias, que mal chegava à São Paulo e suas malas já estavam prontas pata outra viagem, nem saía do aeroporto. Eu falei pra ele que quando eu cantava aqui no escritório, o pessoal ficava tirando um sarro e pedindo pra eu parar. “Wilson, da próxima vez eu vou chamar você lá no escritório pra fazer a segurança pra mim”   Aí, ele deixou a serenidade de lado e sorriu como criança que acaba de fazer um gol.
O Seu Ernesto é descendente de alemães. Tem 68 anos, e garante que estava no asilo apenas como visitante e não mora lá. Muitos deles têm esta impressão ou sensação. Eu diria que é uma proteção sobre sua realidade. O Ernesto, muito simpático, tem um sorriso fácil e brilho nos olhos. Cabelo curto, meio grisalho, olhos semicerrados quando sorri. Era tradutor técnico em alemão, ainda trabalha, mas perdeu mercado por causa dos tradutores da internet. “Aí, todo mundo acha que sabe fazer tradução” Em casa, desde criança, a família só falava alemão, então foi fácil e natural. Agora o tempo andou, e ele só estava de visita, talvez este fosse o caminho para poder sorrir o dia inteiro em lugares que, apensar de todo o cuidado e dedicação dos mantenedores, carecem de encontros, toques e abraços.
Foi uma tarde que passou rápida. Muitos outros estão lá, fora de lá, espalhados pelo mundus todo, ou em nossas próprias casas, a espera de um olhar, um abraço, um ouvido, um entendimento, Às vezes a gente pensa que porque as pessoas perdem a capacidade motora, elas perdem a capacidade de sentir pensar e amar.
No fundo, quem perde somos nós que deixamos de acreditar nelas.
[Maurício Simões também vai envelhecer e vai precisar do seu abraço.]


quarta-feira, 15 de maio de 2013

Do que vou sentir falta de São Paulo


Daqui a alguns meses, depois de 33 anos morando em São Paulo, me despeço, temporariamente. O fato de, nesse tempo todo, eu nunca ter saído da cidade por mais que algumas semanas diz tanto sobre a minha preguiça para mudanças quanto a incrível quantidade de oportunidades, em todos os aspectos da vida, que encontrei aqui. É bastante fácil não gostar de São Paulo, sobretudo pela maldita trindade poluição / violência / trânsito; amar a cidade leva muito tempo, o suficiente para desenvolver certo senso de resignação e esquecer que existem lugares melhores no mundo (e, de qualquer maneira, o Tejo é belo, mas não é o rio que passa por aqui). Abaixo uma lista meio preguiçosa das coisas das quais acho que vou sentir saudades no próximo par de anos:
 
- Pastel de feira, clichê entre os clichês, mas minha comida de rua preferida do mundo todo. Mais ainda por, geralmente, carregar um gostinho de subversão, por estar se entupindo de massa frita, carne moída e queijo derretido antes de colocar qualquer outra coisa no estômago no dia (aliás, pastel existe em três sabores: carne, queijo e palmito. As demais variações são perversões desnecessárias do conceito). Feira livre também é uma delícia, mas esta tem equivalentes fora daqui (infelizmente não necessariamente com vendedores tão bem humorados).
 
- Poder beber na rua, sem necessidade de esconder a lata ou garrafa em um ridículo saquinho de papel. Poder comprar bebida a qualquer hora, em qualquer lugar, privilégio que muitos habitantes de paraísos da liberdade no mundo não têm. 

- Os shows do SESC. O modelo do SESC tem muito do que detesto no Brasil, sustentado por contribuições compulsórias e regressivo por natureza. Nesse caso, porém, vou ser egoísta e julgar pelos resultados, não pelo princípio. Como acho que ouvir música ao vivo é das atividades mais sublimes a que podemos nos dedicar, devo muitos dos pontos altos da minha vida ao SESC. Lá vi Banda Mantiqueira, Paulo Vanzolini, Paulinho da Viola, Ornette Coleman, Christian Scott, Chris Potter, Andre Mehmari & Hamilton de Holanda, Hermeto Pascoal, Yusef Lateef, Rosa Passos, etc, etc, etc; tudo barato, organizado, com ótima infraestrutura e em horários decentes. Civilização deve ser algo desse tipo.

- Os botecos, lugares mágicos onde o tempo se comprime e horas vão passando entre conversas sérias e reflexivas, discussões que nunca levam a lugar nenhum, bobagens irrepetíveis em outros ambientes, chopes, petiscos e talagadas irresponsáveis de steinhäger ou cachaça. Poucas coisas me deixam mais feliz do que reservar uma tarde e uma noite (e, possivelmente, a manhã seguinte, para lidar com a ressaca) para se dedicar a isso. Rei das Batidas, Zé Gordo, Pirajá, São Cristóvão, Empanadas, Frangó, Veloso, Zur Alten Mühle, Léo e aquele bar anônimo de esquina, que não fecha nunca e sempre tem cerveja gelada e uns petiscos meio suspeitos numa vitrine aquecida, um top 10 de coração.

- Andar na avenida Paulista, que pra mim segue sendo uma atração turística de primeira, dos melhores lugares que conheço para simplesmente ver gente (claro que também ajuda o monte de cinemas, livrarias, bares e restaurantes ao redor).

- Poder dirigir duas horas e meia (OK, com alguma sorte) e chegar às praias que são acompanhadas pela Rio-Santos. O litoral de São Sebastião a Ubatuba é magnífico, não deve nada a outros mais falados (mas não menos visitados). Concedo que também é ótimo poder pegar um voo de três quartos de hora e pousar no Rio de Janeiro, mas as saudades do Rio eu deixo para outro texto.

- Por fim, acima de tudo isso, das paulistanas e paulistanos, porque não se sai de um relacionamento tão intenso de três décadas sem criar raízes. Imagine fazer todas essas coisas supostamente legais listadas aí em cima sem companhia - pior ainda quando olho para trás e vejo que tive a sorte de encontrar aqui gente tão generosa e interessante, disposta a compartilhar de sua alegria de viver. Este humilde texto é, no fundo, uma homenagem a todos vocês.


Luciano Sobral - Trabalha como economista para financiar a humilde missão de conhecer o mundo

quinta-feira, 9 de maio de 2013

A Milha e os Limites do possível.

2ª feira agora fez 59 anos que caiu uma das maiores barreiras da história do esporte. O britânico Roger Bannister foi a primeira pessoa a correr 1 Milha (1609m) em menos de 4 minutos. Vem de longe essa paixão do simbolismo dos números cheios nas mais diversas atividades. No atletismo não é diferente. A fixação por esta marca levou por décadas centenas de corredores a tentar superá-la e entrar na história.
Hoje pode até causar estranheza o porquê tanta atenção tenha sido dedicada à busca, mas no começo do século passado matemáticos diziam ser impossível, treinadores diziam ser sobre-humano e médicos diziam que o coração humano simplesmente entraria em colapso correndo nesse ritmo.
Foi a coincidência que fez ainda com que uma semana atrás o americano de número 400 quebrasse a mesmíssima marca. Mais. No mesmo ano em que Bannister parou o relógio em 3:59.6, 37 (trinta e sete!) vezes outros atletas fizeram o mesmo. Dias depois do britânico, o recorde mundial já havia caído vertiginosamente. Por quê?
Às vezes, coisas tidas como impossíveis precisam se tornar tangíveis aos olhos de tantos outros pra que se crie a coragem necessária. Pode parecer clichê de filme de 2ª categoria, mas “por ele (Everest) estar lá”, alguém foi lá e fez. Ou ainda, “por não saber que era impossível, ele foi lá e fez”.
O melhor livro que reconta a saga de Roger Bannister, o The Perfect Mile, é primoroso ao retratar tão bem ainda a vida do americano Wes Santee e o australiano John Landy lutando na mesma época pela mesma quebra. No final de tudo, talvez seja inevitável que o autor queira nos fazer acreditar que tenha sido assim, você fica achando que a honra de entrar para a história tenha ficado com Roger não porque ele fosse o melhor atleta, mas porque ele mais do que ninguém tinha a certeza que correr abaixo de 4 minutos era possível. Assim no esporte, assim na vida?

Danilo Balu