O que vai acontecer no mundo em 2013? Nem eu,
nem a CIA, nem o Cacique Cobra Coral podem responder honestamente essa questão.
Previsões econômicas e geopolíticas contam com um longo histórico de
desmoralização, e o que parece mais sensato a esta altura é reconhecer a
complexidade do ambiente em que vivemos e nossa relativa ignorância a respeito.
Porém, para muitas perguntas, um “não sei” não é aceitável como resposta. A
empresa precisa ouvir do seu diretor de vendas quanto ele acha que vai vender,
para que seja feita uma estimativa de produção e de quantas pessoas são
necessárias para que essa estimativa seja atendida. O pequeno comerciante
precisa pensar que seu movimento justificará manter o estabelecimento aberto. A
família precisa planejar pagamento de impostos, férias, filhos e demais gastos.
A solução para esses dilemas é relativamente simples: não devemos levar previsões a sério, de forma que não seremos seriamente afetados quando falharem. A previsão é válida enquanto for instrumental; quando a situação mudar, deve ser abandonada, com pouco apego e ressentimento. “Quando mudam os fatos, mudo minha opinião; o que você faz?”, disse, certa vez, o grande John Maynard Keynes. Claro que essa forma de humildade intelectual é mais fácil escrita e ditada do que na prática. Na vida real, nos apegamos às nossas visões de mundo, e se elas se confirmam por algum tempo, nos tornamos arrogantes e demasiadamente confiantes. O contrário, claro, também é danoso: sem confiança, perdemos a coragem de tomar até as decisões mais simples, abdicamos da vida.
Uma complicação é adicionada quando pensamos que boa parte dos melhores momentos de nossas vidas vêm de surpresas, quando nossas previsões são positivamente superadas num momento em que nada indicava que isso aconteceria e não tivemos tempo de ajustá-las. Aplicando a racionalidade e uma tendência de extrapolação, acabamos fugindo desses momentos: vamos embora cedo da festa que parece não ter gente interessante, vendemos as ações que estão dando prejuízo, rejeitamos uma proposta de sociedade aparentemente maluca. Talvez em nove entre dez casos a intuição funcione, e nada de bom realmente estivesse para acontecer; ocorre que a vida muda justamente quando as menores probabilidades se concretizam: a mulher ou o homem da sua vida também está naquela festa, tão entediada quanto você e desesperada por um bom papo; as ações começam uma recuperação acelerada dias após você se livrar delas; a empresa que o convidou deslancha em pouco tempo, enriquecendo os sócios.
Não tenho uma boa resposta para como lidar com essa “complicação”, tendo eu desperdiçado várias e grandes oportunidades na vida em nome do “mais seguro”. Talvez aí ajude o autoconhecimento, saber quando se pode confiar em sinais abstratos contra qualquer racionalidade (e aí vale, novamente, a ideia de não se apegar a previsões); talvez funcione escolher, de forma aleatória, o caminho que parece menos óbvio; talvez nada disso valha e sejamos, mesmo, prisioneiros do acaso. Desanimador por um lado, excitante por outro.
Que em 2013 sejamos racionais, impulsivos, flexíveis, humildes, desanimados, empolgados. Humanos, enfim.
Luciano Sobral, trabalha como economista para financiar a humilde missão
de conhecer o mundo.
A solução para esses dilemas é relativamente simples: não devemos levar previsões a sério, de forma que não seremos seriamente afetados quando falharem. A previsão é válida enquanto for instrumental; quando a situação mudar, deve ser abandonada, com pouco apego e ressentimento. “Quando mudam os fatos, mudo minha opinião; o que você faz?”, disse, certa vez, o grande John Maynard Keynes. Claro que essa forma de humildade intelectual é mais fácil escrita e ditada do que na prática. Na vida real, nos apegamos às nossas visões de mundo, e se elas se confirmam por algum tempo, nos tornamos arrogantes e demasiadamente confiantes. O contrário, claro, também é danoso: sem confiança, perdemos a coragem de tomar até as decisões mais simples, abdicamos da vida.
Uma complicação é adicionada quando pensamos que boa parte dos melhores momentos de nossas vidas vêm de surpresas, quando nossas previsões são positivamente superadas num momento em que nada indicava que isso aconteceria e não tivemos tempo de ajustá-las. Aplicando a racionalidade e uma tendência de extrapolação, acabamos fugindo desses momentos: vamos embora cedo da festa que parece não ter gente interessante, vendemos as ações que estão dando prejuízo, rejeitamos uma proposta de sociedade aparentemente maluca. Talvez em nove entre dez casos a intuição funcione, e nada de bom realmente estivesse para acontecer; ocorre que a vida muda justamente quando as menores probabilidades se concretizam: a mulher ou o homem da sua vida também está naquela festa, tão entediada quanto você e desesperada por um bom papo; as ações começam uma recuperação acelerada dias após você se livrar delas; a empresa que o convidou deslancha em pouco tempo, enriquecendo os sócios.
Não tenho uma boa resposta para como lidar com essa “complicação”, tendo eu desperdiçado várias e grandes oportunidades na vida em nome do “mais seguro”. Talvez aí ajude o autoconhecimento, saber quando se pode confiar em sinais abstratos contra qualquer racionalidade (e aí vale, novamente, a ideia de não se apegar a previsões); talvez funcione escolher, de forma aleatória, o caminho que parece menos óbvio; talvez nada disso valha e sejamos, mesmo, prisioneiros do acaso. Desanimador por um lado, excitante por outro.
Que em 2013 sejamos racionais, impulsivos, flexíveis, humildes, desanimados, empolgados. Humanos, enfim.